Vivem-se tempos desencontrados com o amor. A precariedadeinstalou-se de forma refastelada e assumiu as rédeas da entidade empregadora sendo a relação laboral pautada por cláusulas invisíveis mas, rigorosas. Os direitos são escassos e as obrigações exigentes, o amor aqui não tem direito a férias. Amamos oito horas por dia, quarenta horas semanais e, por mais que se trabalhe, a remuneração é tão baixa que até o Patrick Drahi se insurgiria, ou não. Dedicamo-nos à profissão, empenhamo-nos, passamos recibos e, ainda retemos percentagens diferentes sobre esse amor. É o chamado princípio da progressividade que eu tanto ouvia nas aulas de direito fiscal "Quanto mais se ama, mais se paga".
Temos liberdade para podermos "exercer outras atividades"pois não existe regime de exclusividade, sendo uma relação segura uma velha quimera cujos os séquitos são apenas osvelhos do Restelo.Mas atenção, porque se passarmos recibos para duas entidades não há cá subsídios de desemprego para acarinhar ressacas de amor, ao menos haja coerência em alguma coisa.Podemos ter uma residência familiar, partilhar uma economia, pagar contas conjuntamente, mas, mesmo assim é difícil de provar a existência de um contrato. Há um desapego, relações fortuitas que saltam de baloiço em baloiço sem compromisso. E quando já não se precisa desse amor de cabide rescinde-se, acabando assim o vínculo contratual. Envia-se uma cartinha registada, agradece-se todo o amor dispensado mas, já não serve mais.Somos tão facilmente substituídos... o que não falta são pessoas com atividade aberta! É um amor oportunista, oco, onde não se limam vértices, apenas a insustentável leveza de emitir recibos. Não há certezas, segue-se tentando e, ainda se clica na a opção "imprimir em económico". Tudo é fácil.
A crise veio instituir troikamente novos valores no mercado. A situação laboral espelha de forma fiel o nosso PIB amoroso, já não há fé nos valores de fermento do amor, os contratos de trabalho são muito exigentes, dispendiosos, e depois as indemnizações , ai que chatice! Os recibos verdes coadunam-se melhor com o tempo em que vivemos, as coisas novas só são novas uma vez, depois a paixão cansa-se e desanima reclamando novos estímulos.
Contrato de trabalho? Só se for para o amor-próprio, o amor mais durável que conheço!
Regina Azevedo Pinto
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