Sempre me senti acompanhado por mais qualquer coisa além da minha sombra desengonçada. Nunca temi ou enfrentei porém. Fui deixando estar esse companheiro mudo que de uma forma ou de outra jamais se coíbe de nos inquietar. Quase como se de uma fada-madrinha pouco prudente se tratasse.
"Que se lixem as minhas fantasias!", penso eu.
Chama-se PRESSA e está no meio de nós. Se por um lado, Deus nos aquece o coração mas é tão facilmente questionável pela nossa racionalidade filosófica, o mesmo não se pode dizer da omnipresença da pressa que é tão facilmente identificável e de automática comprovação.
Temos pressa de crescer.
Temos pressa de esquecer o ontem.
Temos pressa de que chegue o amanhã.
Temos pressa de receber mais cedo.
Temos pressa de comprar mais.
Temos pressa de ter tudo.
Temos pressa que a dor passe.
Temos pressa de amar.
Temos pressa de ser amados.
Temos pressa de ir.
Temos pressa de chegar.
Temos pressa de ja lá estar.
Os relógios são condenados ao escrutínio e nós, imbecis, desperdiçamos cada vírgula do caminho e antecipamos sempre um ponto final.
Talvez devêssemos pedir o divórcio a essa tal de pressa. Tudo o que poderemos ter que lhe oferecer para que dela nos desvinculemos será sempre inquestionavelmente menos valioso do que tudo aquilo que ela, sacana, nos rouba.
Não convém esmorecer, não convém ficar parado, não convém acreditar a eternidade, mas convém viver e a vida é degustada em pequenas porções.
Isto se quisermos praticar uma refeição de luxo.
E para pobreza, já falta a certeza de que a vida padece de finitude.
Eu, vou levar o meu tempo e desfrutar, preservando o hoje sem pressa de que acabe. Amanhã poderá não ser melhor.
Nunca se sabe. Nunca fui homem de grandes riscos e a segurança parece-me tremendamente melhor esposa que a pressa.
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