Vivemos tempos desencontrados com o espírito e encontrados com o espelho. Valoriza-se a beleza visível, as curvas, os traços, toda uma camada que se usa como um casaco quando se sai de casa, uma espécie de segunda pele. Há que nos agasalharmos contra as opiniões terceiras. As redes sociais transbordam fotografias apelativas ao corpo, imagem, definição de pele. O que vemos diariamente foca-se em traços, perfis, forma, deixando a bruxulear o interior. O tamanho da perna, do peito, do rabo, do cabelo, das pestanas, das unhas....tudo quantificável. Todos com vidas maravilhosas, moralistas e com purpurinas. Fazem-se scrolls infindáveis como se quiséssemos chegar ansiosamente a um ponto de chegada sem saber de onde partimos. Andamos a boiar em imagens fictícias e em venerações alheias. Já é uma patologia no polegar... ver a vida a correr ao nosso ritmo no telemovel. Uma realidade quadrada em forma de ecrã, porém, esta não é tátil. Só deixamos passar o que queremos. O instagram tal como o facebook são a verbalização em forma de metáfora daquilo que somos ou queremos parecer ser. Retira-nos a autoestima e inferioriza-nos. Vivemos cada vez mais através de whatsapp, as relações passaram a ser a três. Há falta de comunicação, de toque, de cartas de amor. É tudo plástico, sem cheiro, igual e em promoção.
Os meus avós não têm facebook, nem instagram, nem whatsapp. Às vezes reclamo em voz abafada, porque não conseguem acompanhar ao ritmo de um like o que se passa na vida dos netos. Mas hoje, chego à conclusão que também é bom. Obriga-nos a estar, a explicar, a criar fios invisíveis de sentimento, de ternura, obriga-nos a passar tempo com quem realmente interessa e dedicarmo-nos a eles. Obriga-nos a ter proximidade, que é tão importante... Não damos por garantido, marcamos presença e estamos presentes. É o que falta, presença, convivência, estar, ouvir com os olhos fechados, o essencial é mesmo invisível aos olhos. Se todos conseguíssemos sentir em braille o mundo seria mais justo e as expectativas mais reais, as pessoas deixariam de ser oxímoros. Quantas pessoas conseguiríamos impressionar se o mundo fosse cego? Pois... o ginásio das virtudes anda com pouca assiduidade e o amor pela verdade ao relento!
Regina Azevedo Pinto
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