Se todos os sentimentos agraciassem mimeticamente os outros que se espelham à sua frente seria a vida bem mais fácil e sem nós de lais de guia na boca do coração. Como seriam lânguidos os sentimentos que percorrem as veias emocionais...não existiam tromboses que deixassem a coxear as palavras. Tudo loquaz ao sentir. Sem atropelos. Teria a mesma forma, ímpeto e proporção. É como colocar fermento e o bolo alimentar crescia concomitantemente. Colocava-se o sentimento em frente ao espelho e ele jogava com o seu narcisismo. Se vai para a direita responde de forma ordeira, o mesmo para todos os outros lados, nem mais nem menos.Haveria um respeito acrítico, uma simbiose de vontades.
Mas nem tudo são receitas culinárias by the book e, mesmo quando são, às vezes falta alguma coisa. Não existe mimetismo sentimental, os sentimentos não são simétricos e homólogos, são díspares. Ou as camisolas estão muito justas e denota-se todo um sentimento voluptuoso a transbordar avidez ou, está demasiado larga e desbotada, nem se consegue apalpar substância. Uma vida em que os olhos procuram a simetria, porque a simetria faz uniformidade e, especialmente, a unidade. Quando não existem arestas rugosas existe enlace. Por vezes pergunto-me se essas formas geométricas existem, e se existem onde é que elas estão unidas. Muitas têm ar a passar entre elas.... Não vêm com manual de instruções. E existem assim sentimentos que transcorrem por uma eternidade inexorável, que fazem jus à primeira lei de Newton, sentimentos em estado de movimento em linha reta, pois não existem forças aplicadas sobre ele. E ele continua em movimento. Pablo Neruda confidenciou-nos que não há solidão inexpugnável, todos os caminhos conduzem ao mesmo ponto: à comunicação do que somos. A primeira imagem que me ocorre é aquela rodinha onde andam os ratos, correm e correm, sempre em movimento, correm para se cansar.....Talvez a dor seja mesmo a essência íntima da vida, o seu substrato mais perene. Através dela o caliginoso combate o silêncio nos degraus mais íngremes, mas aqui a roda é irregular. As coisas mais importantes percebem-se pela emoção, e não pela razão, e o meu pressentimento emotivodiz-me que afinal o mimetismo não é bom, é calculista.
Regina Azevedo Pinto
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