Janeiro cheira a novo, vem com etiqueta ainda e tudo! Alguns andam a passeá-lo só por casa, a ver se serve e se adapta às curvas. Passeiam-no devagarinho para não o vincar muito nos corredores caseiros e, quanto muito, atravessam a rua e vão até à mercearia.Um conceito de ousadia. Uns, exibem-no extravagantemente, rasgaram-no num sorve frenético e já o esticaram e amolgaram até ele folgar demasiado. Vamos lá testar a capacidade do elástico… já não serve, quero o número acima, venha o Fevereiro! Outros, mais indecisos,andam de um lado para o outro a ver as temperaturas de lavagem, composição, origem e a sua verdadeira cor, uma confusão ter de mudar de roupa.
Para quem não gosta de mudanças deve ser um golpe de intromissão imenso, espalhado em 12 actos. Para quem gosta e precisa, Janeiro é a materialização de aspirações angustiadas e perdidas que se vão aglomerando rapidamente, com atacadores soltos aos trambolhões, ao som gritante e ordeiro da contagem decrescente dos últimos minutos do dia 31 do ano que morreu. Após estas últimas síncopes de fulgor, sai do útero a ferros um ano novo, promissor e imaculado. Desprezamos a porta de saída e erguemos o sobrolho de forma vigorante aos tempos crepusculares que se avizinham. Ainda se ouvem ecos de um ano que transcorreu. Outros, nem se aperceberam deste nascimento, um nado morto para algumas almas perdidas, ou descrentes.
Abraços, beijos e sonhos sobem em sprint para o céu agarrados às doze passas que correm todas lampeiras “lá para cima”. Uma correria, a maratona das passas, os aviões que se desviem! Eu pela primeira vez não tive passas à meia-noite. Petrifiquei quando me apercebi que tinha as mãos vazias…Como é que eu ia pedir os meus desejos numerus clausus? Pânic o. As minhas amigas riam-se de forma desmesurada perante a minha cara de hóstia…
-Achas mesmo que precisas das passas para pedir os desejos? – berrava a Rita como se tivesse a 1km de distância de mim com um sorriso à “Champagne”.
Mas é claro que preciso! Onde é que os vou colar agora?Ninguém percebe nada…pensava eu. Dobrei a curva da irritação com um brinde, agarrei-me a elas, e passei-lhes com um beijo toda a minha felicidade de as ter comigo.
Quanto às passas… esses foguetes que agarram desejos e voam, não as tive… mas tenho fé que as minhas aspirações se entendam entre elas e, se concretizem.
Um bom ano para todos!
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