Eternal Sunshine




“To appreciate the sweet you have to know the sour” é uma das falas de um filme que adoro, mas não é sobre o Vanilla Sky que irei debruçar a minha crónica. 

Todavia, esta frase pareceu-me apropriada para começo de abordagem ao filme desta semana – Eternal Sunshine of the Spotless Mind. E é sobre o sour que irei incidir. Quem nunca sofreu um desgosto de amor? Quem nunca chorou pela perda de um ente querido? Ou de um animal de estimação?

Agora imaginem viver num mundo onde existe a possibilidade de eliminar todas as nossas memórias, recordações de algo que nos faz sofrer, nos provoca dor e desgosto. Submeteriam-se a um processo destes? Seriamos, efetivamente, mais felizes esquecendo? Nada de bom advém do sofrimento?

Depois de Human Nature (2001), o francês Michel Gondry, para este seu segundo filme, volta a fazer dupla com o argumentista, a meu ver, mais original, genial e refrescante dos últimos anos. O seu nome é Charlie Kaufman e é a mente criativa de filmes como o já referido Human Nature, Being Jonh Malkovich (1999) ou Adaptation (2002).

Protagonizado por um irreconhecível Jim Carrey, saindo totalmente do seu registo cómico, veste a pele de Joe, um homem aborrecido, desencantado pela vida até que trava conhecimento com a exuberante e intensa Clementine (Kate Winslet, sempre fabulosa) que vai mudar o seu quotidiano. 

Como em todas as relações amorosas, quando a fase da paixão, da descoberta, da excitação se esvai, ou se tem uma ligação muito forte que sustente essa relação ou os problemas começam a surgir. E as diferenças claras entre Joe e Clementine, quer como pessoas quer como cada um entendia ser o significado daquela ligação, vêm ao de cima e o inevitável acontece. 

Quando o destroçado Joe se apercebe que Clementine recorreu aos serviços da clínica Lacuna Inc. para erradicar todas as memórias da relação, num momento de desespero e de raiva resolve fazer o mesmo. E é no meio de todo este processo que as dúvidas começam a surgir. 

Queremos mesmo eliminar algo da nossa memória, da nossa vida que, não obstante a dor do momento ser devastadora, nos deu também momentos maravilhosos e felizes? Não devemos preservar o melhor da vida? 
Galardoado com o Óscar de melhor argumento original, este Eternal Sunshine of the spotless Mind é um filme tocante e que aborda um tema bastante sensível para quem já sofreu desta coisa chamada o amor. Mas, como em tudo, há sempre duas faces da mesma moeda. E por isso, sem qualquer dúvida, reitero o significado da frase inicial, pois quem já passou pelo swear saberá, inevitavelmente, apreciar e viver o sweet de coração cheio.

Sofia Pissarra

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