A Rapariga Dinamarquesa



Desengane-se quem ousa julgar que o filme A Rapariga Dinamarquesa incide sobre a transexualidade ou sobre o choque que isso possa ter causado em tempos anteriores ao que vivemos. Na realidade, a diferença das reacções reside na forma como facilmente dissimulamos a nossa opinião na actualidade, pela vontade de ficarmos bem na fotografia ou sermos simplesmente contemporâneos. 

O que alavanca esta longa metragem é o mais antigo e poderoso elixir de uma humanidade em constante construção e desconstrução: o amor. 

Um sentimento intemporal que se agiganta inequivocamente a quaisquer outros que nos possam assolar. Não só uma história acerca da busca de identidade, numa travessia tão sinuosa como a de não nos amarmos como somos nem sequer sabendo quem seremos, ou sem vivermos em casa na pele que nos foi atribuída pelos desígnios da natureza, mas uma história de entrega sem limite, na qual querer para os que amamos aquilo que eles querem para si mesmos é a palavra de ordem. 

Comovente por tantos aspectos, desde a fotografia exímia que nos é proporcionada por Danny Cohen ou pelos desempenhos sublimes de Eddie Redmayne, como Heiner e também Lili numa já expectável e gloriosa performance, ou Alicia Vikander como a gigantesca Gerda, mas pela mensagem didática que é deixada a tantos de nós, que ainda não sabemos muito bem o que é o amor no verdadeiro sentido e imponência da palavra, como se de uma mera terminologia se pudesse tratar. 

As falhas do ser humano expostas de forma crua, a fragilidade de uma sociedade hipócrita e pouco preparada para o que não lhe é semelhante, a arte como canal de fúrias que aprisionamos no nosso íntimo diariamente e sempre, mas sempre, o amor como ignição de todo este processo de crescimento e aperfeiçoamento. 

A Rapariga Dinamarquesa não é um travesti, nem um dos primeiros transexuais da história, mas sim uma mulher visionária, tolerante e desalmadamente apaixonada que soube abdicar dos seus instintos mais primeiros em função de prestar a mais bonita prova de amor que se pode dar a alguém: 

A de aceitarmos o próximo como é.

Não percam, por vocês mesmos.

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