Resguardo-me num manto nebuloso, como se me deixasse ficar ao centro de uma estrada deserta onde apenas o ruído dos desígnios de Deus se poderia fazer ouvir. Os dedos deixam-se consumir por uma temperatura pouco hospitaleira enquanto a cálida luz do tempo se entrelaça sem aviso nos recantos de um olhar esmorecido e alheado. Na minha cabeça formulam-se cobertas de intenções e ideais de fragilidade exacerbada enquanto o meu real sustento se perde dos caminhos traçados pelo trovador que me ansiei tornar. Começo a deleitar-me com os restos do que sobrou de uma jornada gloriosa. Os joelhos esfolados e as mãos enrugadas, os lábios gretados e as palavras ainda assim apaixonadas. Os lápis partidos e um tempo que não se assemelha a qualquer estação, num cenário menos ambicioso, resultante de passos trôpegos e perspectivas desfiguradas. Há agora mais treva e mais contenção, o baile é menos ritmado e o sentido de oportuno já não é sequer tido em conta. Decoramos as palavras que jamais entoaremos e alimentamo-nos apenas porque nos foi ensinado a fazê-lo. Sentimo-nos flácidos e desidratados, na espuma de dias alheios a terminologias anexas.
São apenas o que são. Ou o que somos.
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