Fugir não é sinal de cobardia. Durante toda a minha vida andei a fugir de tudo aquilo que que me molestava o coração. Para quê ficar e assistir às Divinas Comédias do passado? Cumprimentar demónios diariamente no elevador? Sonhar com pesadelos? Prefiro fugir e deitar-me sobre o olimpo da incerteza e entregar-me à beleza do desconhecido. Não gosto de remediar, de tentar sarar, de pisar as feridas, de ficar com sangue nos sapatos. Gosto de fugir, de "dar o sermão aos peixes" às feridas e deixá-las a alimentaram-se de oxigénio enquanto fecham sozinhas. Tudo isto se passa com um processo muito parecido à da mão invisível de Adam Smith, que regula e equilibra tudo. É essa a minha metodologia, até porque nunca percebi muito de mercados e economias tal como não entendo muito das oscilações da oferta e da procura do amor, então fujo e o Adam Smith trata de tudo.Era a frase que mais ouvia nas aulas de micro-economia na faculdade, ficou-me incrementado como uma panaceia. Não sou estóica, compadeço-me com o mal alheio, com os infortúnios e com a austeridade da vida. Prefiro dedicar-me ao epicurismo da alma e ao bucolismo dos sonhos. Como tudo nesta passagem no mundo dos homens é efémero, não vale apena mergulharmos num quarto escuro, sufocante e sem janela. Vou sair pela porta e vou fugir. Faço na mesma o funeral dos meus pensamentos guturais, são todos exorcizados e vão direitinhos para o purgatório mal atravesso a porta. As coisas não são assim tão simples, é todo um processo, nada vai de chofre. Eles vão ter que se confessar e se expurgar de todos os males que me causaram. Têm que ficar imaculados, purificados e esclarecidos acima de tudo, porque se não continuam a pingar cólera lá de cima. Mancham-me a vida e o meu percurso e eu, torno-me um bode expiatório. Não pode ser, cada um foge para diferentes pontos cardeais.
A minha alma é indómita e rugosa, não é permeável à minha vontade lacrimosa. Não deixo que a vida me soçobre. A vontade de viver está à frente de mim, somos dois heterónimos de um homónimo. A mesma diz-me que todos os sítios são impessoais e frios até o adornarmos com o nosso amor. Mas, se a cor faz vénia à palidez, o amor fica tão rasteiro que nem o vento dá por ele e, a luz se envergonha perante a solidão e fica morna, eu fujo, porque remediar um amor sem vida é assistir ao meu velório vestida de noiva.
Regina Azevedo Pinto
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