PIDE do Amor


Vítimas da PIDE do Amor


Ela era excêntrica, descontrolada e profundamente perspicaz. Ele era solitário, festivo e hiper-sensível. Ambos procuravam ser domesticados. Tentavam introduzir os seus cônjuges nos seus quotidianos, em busca de que estes possam extrair o melhor de si. Gostam de ser dominados com a crença de dominar e entre um copo de vinho e um cigarro adulterado convencem-se de que é possível encontrar equilíbrio entre a sua loucura e a de outrem. Ambos sabem estar errados. No entanto, é a constante turbulência desta estrutura que os alimenta, no egocentrismo de que os que prometeram amá-los os possam salvar do asilo ao qual se confinaram. Ambos dizem disparates para disfarçar todo este processo. Ambos fingem acreditar. Ambos fingem ser felizes. 

Só não fingem amar. 

Porque se amam tanto que são até capaz de amar outro alguém. Choram para maquilhar o seu escárnio para com o universo circundante e sorriem porque se recusam a assumir sentirem-se miseráveis. Talvez porque sentirem-se miseráveis e sobreviver a isso os faça ter a certeza de que são maiores do que os vermes que se conformam com a mediana vida que alimentam sem fogo de a sorver. 

Ambos fazem de uma centelha uma fogueira e ambos conseguem reduzir uma tempestade a um copo de álcool. Ambos querem demais e por isso precisam desta muleta a quem tão carinhosamente apelidam de PIDE do amor. 



O despertador que os faz acordar para serem quem devem. Na sua estranha forma de amar. 


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